Esse Sou Eu

3 de fev. de 2011

Resenha Crítica sobre o livro: Ouvinte consciente: arte musical

Ouvinte consciente: arte musical
Autor: Sérgio Ricardo Corrêa

O livro inicia-se com uma apresentação do próprio autor justificando e contextualizando a educação musical nas escolas contemporâneas ao autor do mesmo.
Ele utiliza-se deste pré-texto como um chamamento aos professores de música para que o livro em questão seja utilizado nas práticas educativas, em colégios de ensino fundamental, antigo primeiro grau.
O autor trata na primeira parte de seu livro o tema Som e Escrita Musical, de maneira demasiadamente teórica e extensa, não fazendo em nenhum momento a proposição de exercícios práticos, carregados de ludicidade, por exemplo, o que tornaria o conteúdo a ser abordado muito mais atrativo e representativo para os educandos. Por ser um livro direcionado a alunos de Ensino Fundamental, (7 à 14 anos de idade), os conceitos e termos utilizados, já no início do livro, são de um certo grau de dificuldade, em alguns momentos esses termos são explicados, em outros não. É possível aqui relacionarmos as colocações com Antoni Zabala, é necessário um estudo mais aprofundado com relação aos conteúdos de aprendizagem.
Sugiro aqui a iniciação do conteúdo proposto, a escrita musical, com metodologias alternativas, por exemplo, o método desenvolvido por Kodály. O autor já inicia o conteúdo sobre escrita musical utilizando-se dos conceitos e fundamentos relacionados à altura, pode-se tratar primeiramente de forma apenas rítmica e introdutória e depois de certa segurança e assimilação se introduz os conceitos de altura baseados no pentagrama. Ao mesmo tempo esse tema, altura, Poe ser abordado de forma lúdica, com exemplos reais já conhecidos dos educandos, jogos e brincadeiras.

Figura 1

O autor demonstra simplesmente os sons que ele julga “mais ou menos graves”, “médios” e “mais ou menos agudos”, mas baseado em qual parâmetro, e partindo de qual referência sonora? (ver Fig. 1).
Logo em seguida é abordo o tema Fórmula de Compasso, tema este carregado da necessidade de um conhecimento de figuras rítmicas, experiência com a escrita musical e uma mínima vivência musical mais intensa, para que seja compreendido de forma satisfatória.
Finalizando a primeira parte com um questionário denominado Verificação do Aprendizado, cujo qual é composto de doze questões dissertativas, dez testes, três exercícios de escrita musical e findando-se com mais dois exercícios práticos, porém, ainda muito “teorizados” e maçantes.
Na segunda parte o autor enfatiza novamente a escrita, demonstrando os termos utilizados para se indicar andamentos, intensidade, sinais regulatórios de variação de dinâmica e armaduras de clave, por exemplo. Temas estes, que devem ser abordados, como já foi dito neste trabalho, após o educando ter uma vivência musical aprimorada.
No segundo capítulo, Organologia e organografia são incutidos assuntos referentes à organização da orquestra, famílias dos instrumentos e afins. Ponto também avançado e sem proposição de alguma vivência ou audição de trechos ou peças musicais que possam contribuir para maior compreensão por parte dos educandos. Porém, a abordagem posterior de instrumentos folclóricos ou de etnias variadas é de grande valia e vêm para contribuir com o conhecimento de outras culturas que também tem a música como forma de expressão cultural. Como por exemplo a guitarra portuguesa, presente no folclore português. O cavaquinho e o bandolim presentes na cultura brasileira, mas, o primeiro com origem portuguesa e o outro com origem italiana. Entre outros instrumentos.
O livro termina o segundo capítulo com uma listagem de instrumentistas famosos, instrumentistas conhecidos internacionalmente, segundo a concepção e orientação do autor. Novamente segue-se um questionário demasiado extenso e que exige dos alunos um conhecimento aprofundado e literato dos textos.
O capítulo três é dedicado a exemplificações com relação a Conjuntos Instrumentais, feito de forma quase que desastrosa o autor separada e explica cada nomenclatura de diversas formações, ressaltando o denominado Conjunto de Iê-Iê-Iê, era como o Rock era conhecido até então.  
E ao seu final tem novamente um questionário extenso e com um ponto positivo ao seu final, quando o autor propõe a formação de uma orquestra, mas peca na escolha dos instrumentos a serem tocados, violino, trombone, fagote, etc.. Apenas instrumentos de orquestra e não instrumentos que seriam de fácil acesso financeiro e tecnicidade aos educandos.
Nos dois capítulos seguintes, Quatro e cinco são relacionados temas referentes à produção vocal, Vozes e Conjuntos Vocais. Como a explicação do aparelho fonador, as classificações vocais, trata de termos específicos do assunto como afonia, cantiga e boca chiusa. Discorre também sobre as possibilidades de conjuntos vocais como coro, madrigal, orfeão, (cujo qual a definição dada pelo autor é um tanto curiosa), entre outros.
Neste momento é necessário ressaltar que o livro atinge seu ápice, com relação à produção e qualidade textual, são os capítulos, seis, sete, oito e nove, História da Música, Música Brasileira (erudita), Música Popular Brasileira e Folclore, respectivamente. Creio que esses capítulos poderiam ser abordados em primeiro lugar, conceituando e contextualizando os educandos. Capítulos estes que infelizmente são permeados de opiniões próprias e conhecimentos de senso comum, mas difere em termos de importância com relação ao restante do livro.
No capítulo nove ressalto as classificações e explicações referentes a algumas manifestações folclóricas presentes no Brasil, a descriminação de alguns instrumentos empregados nas mesmas. Algo que me causou estranhamento foi o fato de no Sub-ítem CONJUNTOS FOLCLÓRICOS OU TÍPICOS, estar presente conjunto de choro, já que no capítulo anterior Música Popular Brasileira este se colocaria de melhor forma, já o próprio autor classifica grupo de choro como, conjunto instrumental urbano.
No capítulo seguinte, Gênero e Formas Musicais, é confuso, já que trata de assuntos já abordados no capítulos três, quatro e seis. Tornando repetitivo.
Na décima primeira parte, Biografias, o autor tenta sintetizar em poucos autores a história da música erudita internacional e da música brasileira erudita e popular, com conteúdo interessante com relação a biografias de diversos artistas.
O capítulo doze, Hinos, como já é demonstrado no próprio título é dedicado a explicações referentes ao surgimentos de hinos e leis brasileiras que regimentam suas execuções em público, com informações pertinentes e abordadas em momento oportuno, pois aqui espera-se que o educando já tenha uma maior “bagagem” formal, em diversos aspectos inclusive no âmbito das leis, deveres e diretos dos cidadãos.
Neste momento, no capítulo treze, são abordados aspectos de fundamental importância, logo, julgo que deveriam ser abordados no início do curso, A música e seu Campo de Atuação Profissional. Aqui são demonstradas as variadas possibilidades de utilização prática dos conceitos e termos teóricos que seram abordados durante o curso.
São descritas as profissões de EDUCADOR MUSICAL, MUSICOTERAPEUTA, TÉCNICO EM PROPAGANDO MUSICADA (JINGLISTA), SONOPLASTA, MAESTRO ARRANJADOR e CRÍTICO MUSICAL. Claro que os conceitos abordados são superficiais, porém, são de um grau elevado de importância a que o interesse e o comprometimento dos educandos sejam efetivados.
O livro se finda com algumas brincadeiras relacionadas aos temas abordados durante seu desenvolvimento, como palavras-cruzada.
Durante o processo de leitura do livro pude observar que os conceitos, termos e temas abordados são de embasamento mais pessoal do que científico, porém, é um livro com amplo conteúdo teórico e com material pertinente. Tanto de música erudita quanto de música popular, em alguns momentos essa diferenciação, feita pelo autor, prejudica no desenvolvimento das idéias. Devemos lembrar que Maria Chistina defende que é necessário responder e pensar nos seguintes aspectos:
O que é importante ensinar em artes;
Como os conteúdos de aprendizagem em artes podem ser organizados;
Como os alunos aprendem Arte  (BARBOSA (Org.).

É um ótimo livro a ser usado como direcionador ou fonte de pesquisa, sendo realizada uma leitura crítica. Creio que o principal ponto a ser questionado é a cronologia que se segue o livro, com temas importantes e pertinentes sendo abordados ao seu final e conceitos estritamente teóricos e não-motivacionais logo em seu início.

Referência Bibliográfica
BARBOSA, Ana Mae (org.). inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo,
CORRÊA, Sergio Ricardo. Ouvinte Consciente: arte musical. Guarulhos: Ed. do Brasil S/A, 1973.
ZABALA, Antoni. Como trabalhar conteúdos procedimentais em aula.